Toalhas rosa e azul

O Mario e eu resolvemos nos casar em janeiro de 2015. Isso nos fez entender diversas coisas sobre a dinâmica do casamento e as convenções sociais ao longo do noivado - das quais tratarei em um momento ou outro -, mas o que vem ao caso hoje é que começamos, a partir de 1º de janeiro, a ganhar um enxoval. "Ganhar" porque eu nunca tive um - e a primeira convenção diz que as noivas vão "montando" seu enxoval ao longo da vida enquanto esperam seu príncipe - e porque a casa em que já morávamos tinha muita coisa velha, segundo a pessoa que nos deu o presente, a mãe do Mario.

O que o enxoval tem a ver com a história? Quase nada. As convenções? Tudo.

Em meio ao monte de lençóis, fronhas, tapetes, guardanapos e toalhas, ganhamos um jogo de toalhas azul e rosa. Lindo! Toalhas de excelente qualidade. Coisa boa mesmo. Gostamos imensamente de tudo, sem tirar nem por. A questão envolvendo as toalhas azul e rosa aconteceu na primeira vez que as usamos.

Em um primeiro momento, senti um incômodo com a coisa toda da cor. Estava claro que cada uma das toalhas tinha um destinatário próprio: azul --> Mario; rosa --> Monica. Decidi mudar isso e quebrar as expectativas. Sugeri que eu usasse a toalha azul e o Mario a rosa. Ele topou. Demos risadas e ficamos esperando o dia em que alguém notasse ou perguntasse algo para surpreendermos.
Como isso não aconteceu tão rápido, eu mesma perguntei à minha irmã um dia. Ela rapidamente respondeu à pergunta "de quem é essa toalha rosa" com um "sua, claro!". Eu neguei rindo e me senti satisfeita. Foi legal quebrar uma expectativa.

Porém, não muito tempo depois, ao usarmos as toalhas novamente, fui eu quem se surpreendeu. Já havíamos separado da mesma forma: rosa --> Mario, azul --> Monica. Aconteceu que em um dos banhos, vejo o Mario usando a toalha azul. Imediatamente lembrei-o de que a toalha dele era a rosa e que já estava usada. Ele se desculpou dizendo que não percebeu que tinha pegado a toalha errada.
O que me fez sentar e escrever sobre isso foi o fato de o meu marido ter dito "não percebi". O que ele não percebeu, gente? Pra mim, aquilo que todos não percebemos. Naturalmente, ele pegaria a toalha azul porque a sociedade diz que deve ser assim. O que EU percebi é que a gente está tão condicionado a pensar dessa forma que, naturalmente, azul vai ser o correto para os meninos e o rosa para as meninas. Eu também percebi que isso me incomoda MUITO! Essa convenção se impõe de forma assustadora hoje em dia, o que gera preconceitos e injustiças.

Pois bem, resolvi escrever tudo isso só para dizer que precisamos nos revoltar contra essas convenções mesmo, seja da maneira mais simples, tal como esse exemplo de trocar as toalhas, mas que seja. Se a gente se acostuma a quebrar as convenções e passa a não ver diferença em coisas simples como essas, a diversidade, que é o que realmente devemos respeitar, será muito mais fácil de ser tratada naturalmente, da maneira que ela deve ser.






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